Tuesday, November 22, 2022

Crônicas de uma vida - Judite

Há quatro dias (19/11/22) chegou uma notícia que não queria ouvir, a da tua partida, a um mês de completares 36 anos de vida... Esse maldito cancro que nunca te teve mas levou-te para longe agora... E se na adolescência até pensava serem muitos anos, hoje penso que não passam de um suspiro. Deliracerou o meu coração, mas que injustiça...

Seguia-te de longe, e olhava as tuas coisas no Facebook, esperando sempre por boas notícias, porque apesar de a vida nos lançar por caminhos e vidas diferentes, sempre ficou aquele carinho, aquele amor e as nossas recordações...

Construiste uma linda família, tiveste um filho maravilhoso, estavas rodeada de amor e almas lindas, pelo pouco de palavras que trocamos estes últimos anos, sabia-te bem dadas as circunstâncias e tinha tanta a certeza que aquele café em Almada ainda haveria de acontecer...

Que dor, ver o esforço de quem segue, da tua família carregar agora as lágrimas e a dor da tua ausência, de perceber a luz do dia, ouvir o barulho do meu relógio do quarto e saber que tu já não verás esta luz, que já não precisas da medida do tempo para nada... Onde estás já só precisas de te enviarmos amor e viver nas nossas recordações.

Nestes quatro dias no meio da minha dor, só quero acreditar que isto tudo é mentira, e meu pensamento não se desvia das doces memórias que tenho contigo, como me disseste há uns anos atrás, éramos felizes e não sabíamos... Pois não, não sabíamos a nossa sorte, de apesar das dores da altura, éramos saudáveis e tínhamos a certeza que iríamos morrer velhinhas.

Já revi tantas vezes o caminho que fazia até a tua casa, onde nos encontrávamos para as andanças pelo Laranjeiro ou Almada de quando a tua mãe ia para o bingo, íamos tantas vezes àquele salão de jogos onde eras viciada e Pró no Puzzle Bubble, a máquina que nos entretinha... Ainda te vejo sentada a porta de casa a escrever a letra da música (Lady Marmalade -Voulez-vous coucher avec moi, ce soir?....) para a decorares.... As conversas e tagarelices, as tardes no cinema quando a Academia ainda estava a bombar, o que nos rimos com o Scary Movie ou American Pie...

As noites dos bailaricos que íamos de tasco em tasco, os verões que íamos para as praias da Costa de Caparica com a bela da garrafa de água congelada enrolada em prata, os amigos a areia e os tascos a bombar "As batatas da Terra" dos morangos do Nordeste.... É nestas e noutras memórias que te vou encontrar sempre... Um pedaço de ti vai estar sempre vivo em mim, para sempre como um diamante precioso... Entretanto vou visitarte a casa como tantas vezes fiz, fosse em mocidade fosse nas memórias que sempre recordei... Estás viva em nós linda, cada um de nós carrega de ti diferentes partes da tua história, diferentes fases da tua vida... E até nos voltarmos a reunir, chega para lá, deixa-me sentar nesse degrau contigo que daqui a nada vamos para a feira.

Amo-te até já!

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